A Espiritualidade do Corpo – fragmentos do livro

A Espiritualidade do Corpo – fragmentos do livro

A Espiritualidade do Corpo – LOWEN, Alexandre

LOWEN, Alexander. A Espiritualidade do Corpo: Bioenergética para a beleza e a harmonia. Tradução: Paulo Cesar de Oliveira. Editora Cultrix: São Paulo. 1990.

Prefácio

Neste livro tentarei revelar o aspecto espiritual da saúde. Veremos que  a sensação subjetiva de saúde é um sentimento de vitalidade e prazer com o próprio corpo, algo que às vezes aumenta de intensidade até adquirir as feições de uma sensação de jubilo. É quando estamos nessas condições que nos sentimos irmanados a todas as criaturas vivas e reconhecemos nossa união com o universo. A dor, por outro lado, nos isola e nos separa dos outros. Quando estamos doentes, nossa saúde é comprometida com não apenas pelos sintomas que apresentamos mas também pelo isolamento que eles nos impõem.

Veremos ainda que a saúde manifesta-se objetivamente na graciosidade dos movimentos, num certo fulgor ou radiância corporal (não admira que falemos em saúde radiante) e no calor e na maciez do corpo. A ausência total desses atributos indica morte ou doença fatal. Quanto mais flexível o nosso corpo, mais perto estamos da boa saúde. À medida que envelhecemos e nos tornamos mais rígidos, vamos nos aproximando da morte (p.11).

O conceito de graça e espiritualidade

(…) Se aceitarmos a ideia de que os seres humanos são criaturas espirituais, também teremos de admitir que a saúde está relacionada com a espiritualidade. Estou convencido de que a perda do senso de ligação com as outras pessoas, com os animais e com a natureza tem como resultado uma séria perturbação na saúde mental. Num nível cultural, chamamos essa perturbação de anomia. Num nível individual, descrevemo-la como uma sensação de isolamento, solidão e vazio que pode levar as pessoas a uma depressão ou, em casos mais graves, a um retraimento de natureza esquizoide. Nem sempre (p.15) se reconhece que, quando as ligações com o mundo exterior são quebradas, ocorre concomitantemente uma perda das ligações com o self corpóreo.

 (…) a intensidade dos sentimentos de uma pessoa são, na maioria das vezes, expressas através de respostas corporais. Toda experiência vivida por uma pessoa afeta o seu corpo e é registrada na sua mente, se a experiência envolve prazer, promove a saúde, a vitalidade e graciosidade física. (p.27) O oposto é válido para as experiências negativas e dolorosas. Se o indivíduo puder reagir apropriadamente ao trauma, as consequências talvez sejam temporárias, já que o corpo tem a capacidade de curar-se e efetivamente o faz. Se a reação for bloqueada, porém, o trauma deixa uma marca no corpo, na forma de uma tensão muscular crônica.

Considere o que acontece à criança que é ensinada a não chorar. O impulso de chorar, inerente ao corpo, tem de alguma maneira de ser bloqueado. Para controlar esse impulso, os músculos relacionados com o ato de chorar, precisam se contrair e permanecer contraídos até que o impulso se dissipe. Mas o impulso não desaparece. Em vez disso, retira-se para o interior do corpo, onde se mantém vivo no inconsciente. Pode ser reativado anos mais tarde, através da terapia ou de alguma intensa experiência de vida. Até que isto aconteça a musculatura pertinente – neste caso os músculos da boca, dos maxilares e da garganta  – permanecerá em estado de tensão crônica. A grande incidência desse problema é evidenciada pelo número de pessoas que sofrem de tensão nos maxilares, que em sua forma mais grave é chamada de STM – Síndrome Temporomandibular.

Sempre que houver tensão muscular crônica no corpo os impulsos naturais estarão inconscientemente bloqueados (p.28).

A repressão dos sentimentos sempre resulta na falta de vivacidade (p.44).

Infelizmente, a maioria das pessoas não se detém para sentir o cansaço. Confrontadas com as pressões da vida, as pessoas acreditam que seguir em frente, com sempre tem feito, é uma questão de sobrevivência. O cansaço desperta um profundo medo de que elas talvez não possam mais continuar a lutar. Muitas acham difícil dizer: “Eu não posso”. Quando crianças, foi-lhes ensinado que querer é poder. Dizer “Não posso” é admitir o fracasso , que é visto como uma evidencia de que elas não merecem ser amadas (p.44).

Respiração

O direito de sermos uma pessoa inicia-se com o nosso primeiro alento. A intensidade com que nos sentimos nesse direito se reflete na qualidade da nossa respiração. Se todos nos respirássemos tão naturalmente como os animais, estaríamos energizados e raramente sofreríamos de cansaço ou de depressão crônica. Todavia, na nossa cultura, a maioria das pessoas apresenta uma tendência a segurar o fôlego. E, o que é pior, elas nem ao menos tem consciência de que sofrem de um problema respiratório. Em vez disso, elas atravessam a vida numa correria louca, parando ocasionalmente para dizerem umas às outras que “mal têm tempo para respirar”. (.49)

A respiração está diretamente relacionada ao estado de excitação do corpo. Quando estamos calmos e relaxados, a nossa respiração é lenta e suave. Num estado de elevada emoção ela se trona mais rápida e intensa. Quando estamos com medo inspiramos rapidamente e seguramos o fôlego. Se estamos tensos a nossa respiração se torna pouco profunda. O inverso também é verdadeiro: respirar fundo ajuda a relaxar o corpo (p.50).

É importante sentir a nossa respiração, observando se respiramos através do nariz ou da boca, ou se seguramos o fôlego. O ato de suspirar constitui um valioso indício, pois é uma resposta à ação inconsciente de prender o fôlego. A respiração normal é um fenômeno audível que se torna ainda mais audível quando estamos adormecidos. A pessoa que respira de forma quase inaudível está inibindo fortemente a sua respiração (p.51).

Por: mariane