Agressividade no trânsito

Agressividade no trânsito

A violência, no contexto da seleção natural proposta por Darwin e minuciosamente estudada por etólogos e analistas do comportamento, o repertório de violência é necessário à sobrevivência do organismo em seu ambiente para a perpetuação de seus genes e preservação da espécie. Em sua vida, o sujeito ressignifica a sua experiência associando estímulos herdados, isto é, inatos – como medo, fuga, esquiva, prazer – com estímulos de sua época, aumentando suas chances de sobrevivência. Para a Psicologia, a agressividade se define como um comportamento diferente da violência em si, por ser uma construção social: é aprendido. Apesar de relacionado com o repertório inato de violência, os ato de agressão só se mantém se forem devidamente reforçados. A agressividade tem como objetivo causar danos ao outro que é, de maneira geral, motivado a evitar tal comportamento. Crianças em meados da segunda infância, que é um período em que elas estão se apropriando das leis de convivência e socialização, tendem a demonstrar comportamento violento ao ver adultos (sobretudo pais e familiares) se comportando de maneira hostil e tendem a aprender este comportamento – e associar a violência a resolução de problemas, surgindo o aspecto da agressividade em sua personalidade, que poderá se manter por anos: uma criança violenta pode, então, se tornar um adulto agressivo. A educação, aqui, tem um grande poder de coibir uma possível manutenção do comportamento, sob o risco de gerar um sujeito que não dissocia agressividade de viver em sociedade – inclusive no trânsito. O sujeito agressivo tende a agir com a finalidade de menosprezar o comportamento alheio e as outras pessoas para realizar os seus próprios objetivos. Esse padrão costuma se manifestar em pessoas com baixa auto-estima, sentimento de culpa e ansiedade, relações interpessoais frágeis, complexos de superioridade e que apresentam dificuldade em lidar com o poder. Tendem a ser controladores, vulneráveis ao isolamento e podem, em algum nível, elaborar fantasias para sustentar sua necessidade para a agressividade. Almeida (2011) diz que a maioria dos traços e sintomas que precedem ou estão em paralelo com a agressividade no trânsito podem ser tratados com psicoterapia.

1.1 Agressividade No Trânsito

Os estudos apontam que é comum, em algum momento da vida do condutor, cometer deslizes. Quando se torna frequente, é uma questão de saúde pública e tem o nome, em diversas literaturas, deRoad Rage. O Dr. Leon James separa em três níveis: impaciência, luta de forças e negligência. Os motoristas agressivos tendem a acreditar que sua perícia em condução está num nível superior às dos demais e acreditam não estar contribuindo para o caos do trânsito.

1. Impaciência: não parar diante de placas ou sinais vermelhos, andar com velocidade acima do permitido, bloquear cruzamentos. São comportamentos que servem de estímulo aversivo para os outros condutores, e oferecem os menores riscos entre os três grupos.

2. Luta de forças: impedir outros condutores de realizar conversões e mudança de faixa, bem como sair de outras vias, usar de gestos obscenos ou xingamentos para ameaçar outros condutores, ignorar a distância de segurança do condutor à frente e laterais. Estes sujeitos como “psicologicamente instáveis que acreditam estar fazendo um bem à sociedade, achando que os outros cometeram erros e precisam ser punidos, desejando punir aqueles que não têm uma conduta semelhante ao do condutor agressivo”. (JAMES)

3. Negligência: duelos, velocidades muito altas, fechadas, andar em “zig-zag” sem sinalização, dirigir entorpecido ou alcoolizado, bem como os crimes que se utilizam do trânsito como atropelos e assaltos. É o último nível de agressividade.

Por Que Ocorre

O comportamento agressivo no trânsito surge do histórico de comportamento agressivos em outras instâncias da vida do sujeito. As causas mais comuns da ocorrência são um ambiente físico que estimule a raiva e o estresse (como muito barulho, calor, engarrafamentos e a sensação de anonimato), baixa fiscalização (sentimento de impunidade) e um ambiente social que permite e até incentiva esse comportamento, como é o caso dos outros condutores, amigos e familiares do agressor. Segundo WAGNER & BIAGGIO (1996), a raiva é uma condição necessária para a agressividade em casos de luta de forças ou superior, mas não a determina – serve de sinalização. É comum achar em pesquisas correlações que implicam que sujeitos agressivos tendem a ser condutores agressivos (GUNTHER & MONTEIRO, 2006).

À partir dos anos 60, uma parcela dos psicólogos constata que as situações se chocam e até se sobrepõem a hereditariedade e o empirismo quando se fala em resposta de organismos, isto é: a personalidade de uma pessoa é relativamente constante, mas dinâmica, pois os ambientes exercem tanta influência no comportamento quanto os hábitos. Parece claro que esta afirmação se aplica ao caso do trânsito.

É importante salientar que, apesar da atual constituição brasileira prever punição significativa aos condutores alcoolizados, existe uma questão cultural muito forte no sentido de ir contra esta lei – inclusive websites divulgando trechos onde a blitzes estão ocorrendo, numa tentativa de burlar a lei. É importante salientar aqui que, assim como os condutores agressivos de maneira geral, os motoristas alcoolizados também não acreditam estar contribuindo para um ambiente caótico.

É evidente a deficiência de educação humanitária nas escolas e educação para o trânsito, bem como a falta de acompanhamento psicológico nos centros de formação de condutores. Apesar do código de trânsito brasileiro prever educação para o trânsito, na prática ela não ocorre de forma eficiente.

Fonte: http://psicologado.com/…/agressividade-no-transito-uma…

Por: mariane