Duas Bailarinas Azuis… ParteII
Sentimentos e emoções não traduzidos pelo olhar acomodado do vidente é do que me refiro quando escrevi o parágrafo Duas Bailarinas Azuis. As pessoas tendem a contentar-se simplesmente com o que é apresentado em um show. Se pudessem treinar suas percepções sentiriam quantos estímulos pairam no ar, antes e durante uma apresentação. Tensões, expectativas, ansiedades, medo, superação, tristeza, dor, perda, êxtase, alegria, pureza, paixão, sonhos, morte e vida, muita vida. Fechar os olhos e ouvidos para o corriqueiro do dia a dia, prestar atenção em si, nas próprias sensações e emoções, aquietar-se, acomodar-se. Sentir lentamente o aroma do ambiente enquanto a respiração se completa tranquilamente no seu ciclo eterno. Abrir os olhos delicadamente e observar o cenário, o palco, o local… Nas suas minúcias, nos seus detalhes, no seu encanto e desencanto, sem julgamento, sem crítica, tão somente observar e deliciar. Desmontar o cenário e recolocá-lo apenas no pensamento, só para contemplar a energia envolvida na sua construção. Ouvir os sons misturados com o burburinho dos acomodados, e abstrair somente aquele que compõe o enredo. E neste som, buscar nas suas entonações, as emoções a que foram planejadas a projetar. Capturar este som como quem rouba uma sinfonia, sem medo nem culpa, e apropriar-se de todas estas sensações numa mescla intensa e verdadeira. A mais simples apresentação passa a ter um novo significado. Deixa novas marcas, e mais novas marcas são possíveis, mesmo que se repita a apreciação. Cada apresentação por mais que seja treinada e padronizada, principalmente quando for ao vivo, vai ser única. Seus participantes não estarão todos os dias com as mesmas emoções que os antecedem. E por mais profissionais que sejam os artistas, eles trazem consigo fragmentos dos seus dias. Este é o maior espetáculo que pode ser apreciado: as emoções exaladas pelo ser humano!